Em mais de meio século de exploração espacial humana, a representatividade de gênero e raça ainda é um desafio. Cerca de 90% dos astronautas foram homens, e poucas mulheres negras alcançaram o espaço.
Em abril deste ano, uma missão da Blue Origin chamou a atenção ao realizar o primeiro voo espacial composto exclusivamente por mulheres desde 1963. A viagem, com duração de pouco mais de dez minutos, destacou a urgência da inclusão e do acesso equitativo no setor espacial.
Com a NASA selecionando novos astronautas em intervalos de aproximadamente quatro anos e sem mulheres negras incluídas na turma de 2025, o debate sobre acesso e inclusão se intensifica.
Aisha Bowe, ex-cientista de foguetes da NASA, empreendedora e uma das primeiras mulheres negras astronautas civis, realizou um voo espacial no New Shepard, da Blue Origin, marcando um passo significativo tanto na história aeroespacial quanto na demonstração do potencial de mulheres negras em áreas historicamente sub-representadas. Ela financiou sua viagem de forma independente, abrindo caminho para novas oportunidades de acesso ao espaço.
A Trajetória de Aisha Bowe
A jornada de Bowe a levou de um community college à NASA, e da diplomacia internacional como palestrante de STEM do Departamento de Estado dos EUA ao empreendedorismo, como CEO da STEMBoard e da Lingo. Ela também participou do curta “In Her Element”. Bowe recebeu prêmios como o Engineering Honor Award e a Equal Employment Opportunity Medal, ambos da NASA, e o Black Enterprise Luminary Award.
Inicialmente, ela enfrentou dúvidas sobre suas capacidades. Uma mudança de mentalidade a impulsionou a buscar o diploma universitário, estudar engenharia aeroespacial e trabalhar na NASA.
A Influência Familiar
A crença de Bowe em superar limites tem raízes em sua história familiar. Seu pai, buscando uma vida melhor por meio da educação, mudou-se das Bahamas para os Estados Unidos nos anos 1980.
Bowe cresceu sem muitos exemplos de sucesso além do trabalho árduo. Seus pais trabalhavam para pagar as contas e sempre encontraram soluções, mesmo em situações difíceis. A determinação do pai ganhou um novo significado quando ele decidiu cursar engenharia elétrica aos 35 anos. Ele se matriculou no mesmo faculdade comunitária que a filha frequentaria anos depois.
Em uma ocasião, o pai de Bowe encontrou livros de cálculo descartados no lixo e começou a resolver os exercícios entre os seus turnos de trabalho. Anos depois, Aisha Bowe se matriculou em uma aula de cálculo ministrada pelo próprio autor daqueles livros.
Bowe percebeu que a forma como se via fazia diferença e começou a focar em seus objetivos, percebendo pequenas mudanças e progresso.
A Busca Pelo Sonho na NASA
Ao ingressar na NASA, Bowe buscou oportunidades de se tornar funcionária federal, participando de seminários e conhecendo diferentes profissionais. Após um estágio de verão, negociou uma extensão e se candidatou a uma vaga em tempo integral.
Nos seis anos seguintes, Bowe participou do programa de desenvolvimento de liderança NASA FIRST e viajou para diferentes centros da NASA para conhecer as prioridades da . Durante esse período, ela mentorou estudantes, deu palestras e trabalhou em projetos que reforçaram a importância da representatividade.
Novo Caminho
Apesar de amar seu trabalho na NASA, Bowe sentiu que precisava fazer mais. Ela começou a fazer trabalho voluntário em escolas locais, inspirando estudantes que nunca tinham conhecido um engenheiro. Com o tempo, ela quis ter mais flexibilidade para ampliar esse impacto.
Em 2013, fundou a STEMBoard, uma empresa do setor aeroespacial e de defesa que fornece serviços de ciência de dados, análises e TI para clientes do governo federal dos EUA. Hoje, ela faz parte dos menos de 5% de mulheres negras nos EUA que são donas de uma empresa de defesa.
Um Encontro Inesperado
A jornada de Bowe ao espaço começou com um encontro inesperado com uma menina de 13 anos chamada Claire. Ao longo dos anos, Bowe viu os sonhos de Claire ganharem altitude. Quando Claire entrou na Blue Origin, Aisha a incentivou a se lançar com coragem. Bowe percebeu o quanto o setor aeroespacial ainda parecia invisível para muitos jovens e decidiu tornar o espaço mais empolgante e relevante.
Em 2022, Bowe se tornou a primeira integrante da tripulação do primeiro voo totalmente feminino da Blue Origin a bordo do New Shepard. Entre os engenheiros que ajudaram a construir o motor do foguete estava Claire, a mesma garota que Bowe havia mentorado anos antes.
Para se preparar para essa jornada, Bowe treinou intensamente por dois anos.
Antes do lançamento, seu pai faleceu repentinamente. Sua equipe dedicou uma estrela em nome de seu pai, com a inscrição: “Para todos os lugares onde ele já não pode estar, mas onde você estará”.
Na Blue Origin, Bowe atuou como operadora da carga útil científica em um experimento colaborativo com o TRISH da NASA e com a BioServe Space Technologies da Universidade do Colorado Boulder. O estudo analisou como microgravidade e radiação afetam a biologia das plantas, contribuindo para pesquisas sobre agricultura espacial e segurança alimentar no futuro.
Durante a missão do New Shepard, ela operou duas cargas científicas: uma apoiada pelo TRISH e outra desenvolvida em parceria com a BioServe Space Technologies, a Universidade Winston-Salem State e a Espacial Brasileira.
Empoderando a Próxima Geração
Após anos inspirando estudantes, Bowe criou a Lingo, uma empresa de educação prática nas áreas de STEM que ajuda alunos a enxergar como tecnologia e empreendedorismo se conectam. A missão é capacitar um milhão de estudantes com habilidades nessas áreas nos próximos 10 anos. Hoje, o currículo online já acumula mais de 14 mil matrículas.
Um ex-aluno, Stephen, participou de um workshop da Lingo, mudou seu curso universitário e hoje é investidor de venture capital no Vale do Silício, apoiando outros empreendedores. Outros seguiram para engenharia aeroespacial e desenvolvimento de software.
A Lingo está se expandindo rapidamente ao se aliar a outras organizações. O objetivo é capacitar professores, pais e instituições em todo o país para mostrar aos estudantes que a inovação não deve ser reservada a poucos.
Fonte: forbes.com.br
